Cia dos Outros apresenta

Cia dos Outros apresenta
intrigas, acidentes e baixarias em grande estilo

terça-feira, 22 de setembro de 2009

E dá-lhe motivos pra Comemorar

Fernanda está indo para França nessa semana, não estará conosco na estréia do SESC av. Paulista em Outubro... que estranho isso né? Mas tudo bem, nada que uma boa festa não ajude a entender! O que não nos falta é motivo pra comemorar! Obrigado a todos os amigos que vieram!!! Descumpem-nos os que não ficaram sabendo... foi tudo planejado de um dia pro outro, ninguém sabia no que ia dar, mas aguardem, que tem mais de onde veio essa!

o bigode do Corra... me fazendo um latin lover!!!




Carolina Bianchi lança raios pelo evento


drinks coloridos...


e muito brilho...


... por todos os lados, tipo natal! háháhá

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Crítica "Corra como um Coelho" por Gabriela Mellão - FENTEPP

Corra Como um Coelho expõe no palco o insólito que se instaurou na vida cotidiana do homem contemporâneo
Por Gabriela Mellão

O homem da contemporaneidade perdeu as particularidades que faziam dele um ser único e insubstituível. De tanto ser bombardeado pelos valores distorcidos de sua cultura, desumanizou-se. Está muito ocupado com suas obrigações para investir em a si próprio. Precisa arrumar uma maneira de ser feliz, de ter dinheiro, ser popular, estar em forma, realizar-se profissionalmente, fazer o bem para a sociedade, constituir família, plantar árvores, ser generoso e se divertir. A lista infinita de cobranças desviam-no de sua essência, abrindo espaço para o insólito se instaurar na loucura deste viver. E assim, quase naturalmente, o absurdo se impõe na vida cotidiana.

O espetáculo Corra como um Coelho, da cia. dos Outros, expõe no palco o que há de surrealista no dia-a-dia das relações humanas da atualidade. A peça acontece num casa estranha, habitada por bichos empalhados, móveis obsoletos e 3 personagens que parecem estar ali por obra do acaso: uma mulher automatizada com tendências suicidas e dois homens infantilizados – um se dedica a contar histórias sem nenhuma importância, o outro é um vaqueiro bastante particular, usa roupa apertada, tem tique no rosto e samba no pé. Os três são ridículos, surgem em aparições absurdas, proclamam discursos medíocres ou limitam-se a executar silenciosamente suas inexplicáveis ações.

Corra como um Coelho faz um retrato paródico da sociedade de hoje, composta por pessoas que fogem do ato de refletir. Ocupam-se com qualquer coisa. Empanturram-se de atividades insignificantes ou investem no poder verborrágico da fala. Alguns o fazem de maneira consciente, outros inconscientemente. Todos se entopem de ações ou palavras, compartilhando da mesma busca desesperada de preencher vazios existenciais.

O espetáculo criado em 2008 contou com a orientação do diretor do Teatro da Vertigem de Antonio Araújo, professor da ECA e com José Fernando de Azevedo, outro professor que é também dramaturgo e diretor da Cia. Teatro de Narradores (cujo espetáculo Casa de Bonecas, adaptação da obra homônima de Henrik Ibsen, será apresentado dia 25 no Fentepp). Além de buscar inspiração no absurdo do mundo real, o grupo se serviu do clima surrealista dos filmes de David Lynch, do non sense da obra de Lewis Carrol, dos contos de humor negro da escritora Dorothy Parker, da estrutura do cinema mudo e das minisséries americanas.

Como conseqüência a essas múltiplas referências, Corra como um Coelho experimenta vários caminhos estéticos e temáticos, sem se fechar em nenhum. A confusão é intencional e gera questionamentos permanentes no espectador. Ele se pergunta o que realmente se passa em cena, como é possível existir uma peça sem lógica alguma e quem são os três personagens, os quais, desafiando padrões do teatro tradicional e da vida, surgem no palco, desaparecem e depois voltam a aparecer. Eles dançam e cantam músicas de diversos estilos. Atiram, são baleados, morrem e ressuscitam. Com champagne, também matam a sede de seus bichos empalhados e esquecem suas frustrações.

A comédia Corra como um Coelho tem a qualidade rara de combinar humor e reflexão. Sua trama faz mais do que divertir, tem o poder de inquietar sua platéia, convidando-a a eliminar idéias pré-concebidas sobre a arte do palco e do existir.



Gabriela Mellão é jornalista, crítica de teatro e dramaturga. Pós-graduada em Jornalismo Cultural na PUC, estudou Cultura e Civilização Francesa na Sorbonne, em Paris e Dramaturgia e História do Teatro Moderno em Harvard, Boston. Já escreveu para os principais jornais do país como Estado de São Paulo e Jornal da Tarde. Atualmente é colaboradora da Revista Bravo!, na qual faz críticas e reportagens, e da Folha de S. Paulo. Na área acadêmica, leciona a disciplina Teoria de Crítica Teatral para o curso de Jornalismo Cultural da Pós-Graduação da FAAP.


Fonte: Assessoria de Imprensa do FENTEPP - Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente

Crítica "Corra como um Coelho" por Alexandre Mate - FESTIVALE

O SIMULACRO SATÍRICO DE CORRA COMO UM COELHO TEM COMO
GRANDE TRUNFO A TRINCA DOS EXCELENTES ATORES-CRIADORES

Ao adentrar na platéia do Teatro Municipal de São José dos Campos, com o cenário já iluminado, o espectador tende a levar um choque: em cena um grande cenário de gabinete. Construção rara nos dias de hoje, sobretudo por conta de ásperos serem os tempos que nos é dado viver... Parte da grana que entra para o grupo, e que provavelmente, não deve ser muita deve destinar-se ao transporte do material de cena.
Ao deparar-se com aquele material cenográfico – e é inevitável – a imaginação corre solta, criando hipóteses de que, provavelmente, o que se assistirá deva corresponder a um drama clássico. Antes de o espetáculo começar, vê-se uma mulher caída em cena. Duas pistas: o cenário naturalista e a mulher, vestida de vermelho, caída. O foco encontra-se na cena, mas o espectador é surpreendido por dois atores que, aparentemente bêbados, irrompem da plateia. No palco, os dois atores digladiam-se por meio de trombadas. Naquele cenário e com os figurinos realistas alguma coisa afigura-se fora de foco... Primeiro desmonte das hipóteses iniciais. A falta de sincronia entre as partes, àquela altura, remetia ao título da obra...
Levantada do chão, a mulher de vermelho e de cabelo à la Chanel, começa a falar. Fala confusa, repetitiva, sem revelar algo de si ou daquele contexto.

A atriz Carolina Bianchi é fantástica, compõe sua personagem de modo tão excêntrico (abrigando a duplicidade compreendida entre o inusitado comportamental e a tipologia de palhaço), que ao cabo de pouco tempo, parece desnecessário saber quem ela representa. O carisma e domínio da atriz intentam o jogo e a percepção segundo a qual, parafraseando verso de música: se verá que tudo é mentira. A mulher de vermelho não é personagem, é uma figura. Do mesmo modo os dois “trombetantes-atores”, também não são personagens, são figuras lúdicas. Ao se formular tal hipótese, desmontando todas as outras, o espetáculo se redimensiona, transforma-se em jogo de advinha...

Do estoicismo das pistas iniciais o espetáculo (construído, intuído em nossa cabeça) migra para o reinado do hedonismo e do prazer da diversão, do entretenimento. Trata-se de um exercício de entretenimento contando com a verve dos três intérpretes. Divorciado de outras preocupações, o espetáculo escorre como água para chocolate. Não há o que entender, mas o que se permitir.

No jogo instituído pelos atores e pela diretora Fernanda Camargo, ocorre um jogo sem que se saiba (e passa a não importar) como as peças se movimentam. Sabe-se que essas peças-figuras têm uma lógica não cartesiana, que se apresentam a partir de solos (corporais e falados, corporais, ou falados...) e que suas intervenções, pautadas pela experimentação performática assemelham-se enormemente nos chamados números de cortina do (pouco conhecido) teatro de revista.

Na obra, para além dos mencionados filme de David Lynch, Lewis Carrol, Dorothy Parker, pode-se perceber a suicida do filme Delicatessen (1991), de Dona Zero, personagem criada por Elmer Rice para o texto A máquina de somar (1922-23) e tantos outros efeitos-imagens que formam a colcha de retalhos que caracteriza a obra.
Do ponto de vista dramatúrgico, é bastante provável que a partitura do espetáculo seja fechada, mas os atores, por sua capacidade de jogo, conseguem transcendê-la e quase dar a entender que improvisam a todo o momento. Nesse particular, o mérito é da diretora e dos três intérpretes.

Alexandre Mate*
(17 de setembro de 2009, com a certeza de que é preciso cantar)
 
*doutor em História Social (FFLCH-USP). Professor de História do Teatro e da Literatura Dramática no Instituto de Artes da Unesp e da Escola Livre de Teatro de Santo André. Pesquisador de teatro e participante do Núcleo Nacional de Pesquisadores de Teatro de Rua

Corra como um Coelho, de 07 a 29 de Outubro no SESC Av. Paulista, quartas e quintas 21h





Foto de Maria Tuca Fanchin e Cia. dos Outros


A pesquisa de imagens da Cia dos Outros é feita aqui em parceria com a fotógrafa e atriz maria Tuca Fanchin.




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